Código do tênis

O Código do Tênis
1. Antes de ler este artigo, você deve estar se perguntando: Se já existem as regras oficiais do tênis (http://www.cbt.esp.br/modulos/cbt/cbt/conteudos/67.pdf) - que vale a pena ler - para que ainda é preciso mais um "código" para jogar tênis?
2. Uma resposta simples pode vir da seguinte situação hipotética: duas pessoas, A e B, estão jogando um torneio sem juizes e numa das bolas de B, A diz: - Não estou certo se foi fora ou dentro, o ponto é seu. Três games depois, numa das bolas de A, B diz: - Não tenho certeza se a bola saiu, vamos repetir o ponto. Em duas situações idênticas, houve duas decisões diferentes. Com certeza, pelo menos o jogador A gostaria de estabelecer um código que funcione.
3. Existe um grande número de questões não tratadas pelas regras, que são resolvidas somente pelos costumes e pela tradição. Por exemplo, muita gente sabe que numa bola duvidosa, o adversário tem o benefício da dúvida. Mas isso não está escrito nas regras oficiais. Esta e outras questões similares são a razão pela qual precisamos de um código, cujos elementos essenciais estão descritos abaixo.
4. Um dos aspectos difíceis do tênis é que quando uma partida é jogada sem juízes, os jogadores são responsáveis pelas decisões , especialmente pelas marcações de bolas. Entretanto, existe uma diferença sutil entre as decisões dos jogadores e a dos juízes. Um juiz de linha tenta dar o melhor de si e ser imparcial, enquanto que um jogador deveser guiado pela lei não-escrita de que qualquer dúvida deve ser resolvida em favor do adversário.
5. Em decorrência desse princípio, um jogador, tentando ser honesto nas marcações, freqüentemente vai manter uma bola duvidosa em jogo e descobrir - tarde demais - que a bola foi fora. Mesmo assim, a qualidade do jogo é muito maior, jogando-se dessa forma.

Fazendo marcações (em jogo sem juiz)
6. O objetivo primordial das marcações é a precisão, e todos os jogadores devem cooperar para atingir esse objetivo. Quando um jogador não marca, contra si próprio, uma bola fora, jogada por ele, e que ele viu claramente que saiu (à exceção do primeiro saque), ele está trapaceando. E ele não precisa esperar que seu adversário solicite a opinião dele sobre a bola.
7. Como todos os jogadores são humanos, erros serão eventualmente cometidos, mas tudo deve ser feito para minimizá-los, inclusive ajudar a um adversário a marcar. Nenhum jogador deverá contestar a marcação de um adversário, a menos que ele solicite uma opinião. No caso de uma opinião ser solicitada e ser dada, esta opinião deve ser aceita. Caso nenhum dos dois tenha opinião, a bola deve ser considerada boa. Obviamente, a ajuda de um adversário só pode ser solicitada numa bola que terminou o ponto.
8. De acordo com as leis de paralaxe, a opinião de um jogador que está olhando a linha de cima tem muito mais chance de ser correta de que a de um jogador olhando através da linha. Quando você estiver olhando através da linha, não marque a bola fora se não for possível ver claramente uma parte da quadra entre a linha e a região onde a bola bateu. Isso significa que se você está a uma distância de meia quadra ou mais e a bola cai a cinco centímetros da linha, é praticamente impossível marcar com precisão. Assim, um jogador que está próximo de sua linha de base e questiona a marcação de uma bola que caiu próximo à outra linha de base está provavelmente sendo ridículo. Na verdade, ele não deveria questionar marcação nenhuma.
9) Em duplas, quando um parceiro marca fora e o outro marca dentro, a dúvida foi estabelecida e a bola deve ser considerada dentro. A relutância de certos jogadores em contrariar a marcação do parceiro é secundária em relação à importância de evitar que os adversários sofram com uma marcação errada. A maneira sutil de atingir esse objetivo é dizer em voz baixa ao parceiro que ele se enganou e deixar que ele mesmo reverta a marcação.
10) A marcação da linha de serviço deve ser feita pelo parceiro do recebedor, e este deve marcar as linhas paralelas central e lateral. Entretanto, qualquer dos parceiros pode marcar qualquer bola (de saque ou não) que ele veja claramente que saiu. É muito difícil o recebedor marcar com precisão uma bola que caia próxima à linha de serviço, devido a efeitos de paralaxe. Esta é a razão pela qual, em partidas de simples, muitas vezes o recebedor põe em jogo bolas que saíram mas que ele não teve certeza absoluta para fazer a marcação.

Sobre o pedido de "let"
11. Qualquer dos jogadores pode pedir um "let", mas essa marcação (assim como a de fora) deve ser feita instantaneamente, caso contrário a bola é presumida como boa e está em jogo. "Instantaneamente" significa que a marcação é feita antes que o adversário devolva a bola ou que a sua devolução saia ou bata na rede.
12. Este requisito de marcação instantânea elimina a opção de "duas chances" que alguns jogadores praticam. Para ilustrar, o jogador "C" está avançando para a rede para fazer um voleio fácil quando percebe uma bola vindo de uma quadra vizinha. Ele continua a jogada e erra, para então pedir um let, que obviamente não é válido. "C" poderia ter pedido um let se parasse a jogada assim que viu a bola da outra quadra vindo em sua direção, mas como ele continuou a jogada e errou, ele perdeu a oportunidade de pedir o let .
13. Para fazer valer a regra de marcação instantânea, torna- se quase certo que haverá bolas fora que serão jogadas . Num primeiro saque rápido, por exemplo, às vezes a bola se move tão rapidamente que o recebedor devolve a bola e não há nem tempo de marcar. Nesses casos, considera-se que o recebedor teve a sua chance (única), independente de ter ganhado o ponto ou não.
14. Toda bola que não possa ser marcada fora presume-se que foi boa e um jogador não pode pedir um let com a justificativa de que não viu onde a bola bateu . Se não fosse assim, a melhor defesa contra uma bola fora de alcance seria fechar os olhos ou se virar de costas antes de a bola bater na quadra.
15. Um dos momentos mais aborrecedores do tênis ocorre quando, após um longo rally, um jogador faz um winner e seu adversário diz: "Não estou certo se essa bola foi boa ou não. Vamos jogar um let". Quando você pede para repetir uma jogada porque você diz que a bola foi fora mas você quer "dar uma chance" ao seu adversário, você está se iludindo. Você deve ter tido uma ponta de dúvida e, nesse caso, o ponto deve ser dado ao seu adversário.
16. Normalmente, o pedido de repetição de ponto é um sinal de fraqueza e de falha em exercer a responsabilidade da marcação, e isso deve ocorrer muito raramente. Uma dessas ocasiões pode ser a seguinte: A bola do adversário, um saque ou não, parece ter sido fora e você dá fora, mas devolve a bola e a bola entra. Uma inspeção melhor revela que a bola, na verdade, foi dentro . Nesse caso, o mais justo é jogar um let. Mas, se você não tivesse devolvido a bola, o ponto seria do adversário.

17. Toda vez que houver uma marcação de fora ou um pedido de let, o jogo pára, independente do que acontece em seguida. Esta política é clara e simples, embora às vezes seja irritante. Por exemplo, você está na rede e seu parceiro saca um canhão e a devolução mal chega à rede e, antes que você possa matar o ponto, o recebedor grita "fora". Em seguida, uma verificação da marca mostra que o saque foi bom e o recebedor pede um let. Em princípio, você pode pensar que o ponto teria que ser seu, mas suponha que você tivesse errado o voleio. Você teria imediatamente pedido um let, sob a alegação de que a marcação o distraiu. E uma regra tem que valer em qualquer situação.
18. Em duplas, quem está na rede tem mais condições de pedir um let devido ao toque da bola na rede, porém qualquer dos quatro jogadores que tenha ouvido o toque pode pedir o let. Para que um pedido de let seja válido, ele deve ser feito antes que o retorno do serviço saia ou seja rebatido por um adversário.

Como lidar com um adversário "catimbeiro"
19. Imagine que você está jogando um torneio e o seu adversário está gritando, batendo os pés e jogando a raquete no chão, talvez até sendo verbalmente agressivo. É provável que ele esteja querendo vencer você pela intimidação. Não deixe que isso aconteça. É importante que você não deixe a catimba dele afetar o seu jogo.
20. Primeiramente, não demonstre qualquer emoção. Não mostre nenhuma reação, ignore a catimba e se concentre na bolinha. Não sorria e definitivamente não fale com ele, pois o que ele quer é retirar a sua concentração no jogo. A esportividade não obriga que você converse com ele durante o jogo. O silêncio pode ser a sua melhor tática.
21. Preste atenção no jogador que fica reclamando de contusões ou cansaço. Alguns jogadores fazem isso buscando que você sinta pena deles. É triste, mas alguns jogadores são conhecidos por simular contusões, inclusive usando ataduras. Uma eventual contusão é problema do seu adversário. Não reduza o seu ritmo de jogo. Afinal, se ele estiver realmente contundido, ele nem deveria estar na quadra.
22. Outras estratégias utilizadas são esquecer constantemente o placar, errar a contagem ou solicitar a repetição do ponto, alegando não ter certeza. Para evitar isso, faça sempre a contagem do placar em voz alta, a cada ponto. E, em caso de não se ter certeza se a bola saiu, a "regra é clara": na dúvida, a bola é boa.

Distraindo o adversário
23. Um jogador que faz uma devolução fraca e, quando a bola está se dirigindo ao adversário, grita algo do tipo "para trás" violou a ética do bom jogo. Seu adversário, caso não devolva a bola devido ao grito, pode ganhar o ponto com base na distração. Entretanto, se ele rebater a bola e errar, não poderá reclamar nada e perderá o ponto. Outra possibilidade nesse caso é requerer um let, mas desde que isso seja feito antes de rebater a bola ou pelo menos de ver o resultado da jogada. Certo tipo de jogador espera o resultado de sua jogada para pedir o let somente se sua bola sair. Essa prática não é ética.
24. Geralmente, qualquer conversação entre parceiros enquanto a bola está indo para a quadra adversária não é permitida. Uma vez que você ou seu parceiro tenham rebatido a bola, não digam nada mais para o outro, até que o adversário rebata a bola. Deve-se limitar a conversa durante o ponto, quando a bola estiver do seu lado da rede, a exortações do tipo "corre", "deixa" ou "fora", etc. Por falar nisso, um aviso ao parceiro de que a bola está indo para fora, não vale como marcação de fora.
25. Com respeito ao jogador que se move quando a bola está em jogo ou no momento em que vai ser posta em jogo, em geral ele tem o direito de mover seu corpo com quiser. Ele pode mudar sua posição em qualquer momento, mesmo na hora do saque do adversário. Movimentos ou sons que são feitos somente para distrair o adversário são proibidos, tais como balançar os braços ou a raquete, bater com os pés no chão ou falar/gritar.

Footfault
26. Num campeonato, o recebedor ou seu parceiro podem aplicar o footfault no sacador, após este ter sido advertido uma vez e um pedido de juiz tenha sido recusado. Essa marcação deve ser feita apenas se o recebedor tiver absoluta certeza, com o footfault tão flagrante que seja percebido do lado do recebedor. Em duplas, o parceiro do recebedor está em melhor posição para aplicar o footfault, enquanto que em simples apenas os casos mais flagrantes podem ser apontados.
27. Se você acha que seu adversário gosta de subir à rede e suas violações não são suficientemente claras para você marcá-las, a situação pode ser irritante. A obediência à regra do footfault é uma questão de ética de cada jogador. Se ele faz footfaults quando não há juiz e pára de fazê-lo quando há juiz, ele deve reexaminar seus padrões éticos e verificar se ele é o tipo de pessoa que trapaceia desde que não seja detectado ou punido e, então, tentar mudar o seu procedimento. Fazer footfault habitualmente é um roubo tão grande quanto a marcação errada proposital.
28. Mesmo sem falar de ética, também do ponto-de-vista prático, um jogador deve evitar o footfault. Não é incomum que num jogo com juízes, um abusador de footfaults fique tão irritado com as marcações de footfault que seu jogo se desintegra completamente.

Cortesia na quadra
29. O tênis é um jogo que requer cooperação e cortesia de todos os participantes, inclusive da platéia. Tente fazer do tênis um jogo divertido e agradável para todos, da seguinte maneira:
- cumprimente o seu oponente pelas boas jogadas;
- aguarde o final do ponto para devolver uma bola que veio da quadra ao lado, e mande-a de preferência para o sacador;
- aperte as mãos do adversário ao final do jogo;
- opine sobre as marcações na quadra do adversário somente quando for solicitado;
30. Por outro lado, os seguintes comportamentos devem ser evitados:
• comemorar os pontos ganhos com gritos ou vibrar com os erros do adversário (obs.: Isto vale para a torcida também, que deve também manter silêncio durante os pontos);
• reclamar de jogadas do adversário, tais como lobs, drop shots ou bolas "sem peso";
• deixar sem graça um adversário mais fraco com gracejos ou sendo condescendente;
• perder a calma, xingar, jogar a raquete, ou isolar a bolinha;
• exibir mau humor ou abandonar o jogo se estiver perdendo;
• pedir ajuda da platéia para fazer marcações;
• emitir grunhidos os outros sons altos ao bater na bolinha, pois podem atrapalhar o adversário e até os jogadores de outras quadras;
• invadir a quadra do adversário para verificar a marca da bola, sem ser convidado a fazer isso;
• efetuar marcações sem ter absoluta certeza. Qualquer dúvida deve ser resolvida em favor do adversário, sem ser necessário repetir um ponto jogado.
Muitas outras regras poderiam ser listadas aqui. O fundamental é usar o bom senso e procurar não fazer com os outros o que não gostaria que fizessem com você. Assim o tênis será uma fonte de diversão e relaxamento, além de manutenção da saúde.
Fonte: THE CODE OF TENNIS - THE PLAYERS' GUIDE FOR UNOFFICIATED MATCHES - Colonel Nicolas E. Powel. Tradução: Eduardo Ponce da Motta.