Dicas para duplas



O Básico do Jogo de Duplas


O óbvio é sempre o menos compreendido
Príncipe de Metternich


As três primeiras lições sobre o jogo de duplas são, de longe, as coisas mais importantes a serem aprendidas. Há muito mais no jogo de tênis do que o simples movimento mecânico de bater na bola. Tanto tenistas jovens e inexperientes, como os mais antigos, costumam botar a culpa de seus erros nas suas batidas, ignorando os demais aspectos mentais do jogo. Entretanto, embora demore semanas ou meses para se melhorar uma batida, é possível aumentar seu desempenho mental da noite para o dia, obtendo-se um jogo melhor de imediato.

Uma maneira de se conseguir isso é utilizando estratégia, especialmente as técnicas de guerra psicológica, que são positivas porque você pode usá-las para minar o moral de seu adversário e para aumentar o de seu parceiro. Assim, um minuto gasto psicanalisando a si mesmo vale por um mês tentando melhorar sua direita, seus golpe de revés, saque ou voleio.

Simples é um jogo de velocidade, dupla é jogo de habilidade
Bill Tilden

O uso de estratégia é importante em todos os esportes, especialmente os que são jogos, como o tênis, e é ainda mais importante na dupla que na simples. Em partidas de simples, a habilidade e a força são geralmente o fator determinante, mas nas duplas é preciso estratégia para vencer. Vamos, então, a essas três primeiras lições:

1.      Trabalhando com os olhos na rede:
Não olhe para trás quando o seu parceiro for bater na bola. Olhe para o adversário que está na rede, para tentar defender-se de uma possível interceptação que ele faça. Além disso, ganhe tempo para evitar ser atingido por um voleio do adversário ou ainda evite ser atingido pelo próprio parceiro na parte da frente do corpo, que é muito mais vulnerável. 

2.      Trabalhando com os pés na rede:
         Na formação mais comum, em que um fica na rede e o outro no fundo, o ponto é disputado entre os jogadores de fundo de quadra, enquanto que os que estão na rede ficam à espreita de uma oportunidade para matar o ponto com um voleio. Durante a troca de bolas, esta é a forma como você deve se comportar na rede:
1. Quando seu parceiro for bater na bola, desloque-se para trás e para a esquerda, dando-lhe mais ângulo para colocar o golpe.
2. Quando seu adversário for bater na bola, desloque-se para frente e para a rede, para dificultar o golpe dele e tentar interceptar a bola.

3.      Reagindo aos golpes de seu parceiro:
         A maioria dos jogadores de tênis pára de jogar quando seu parceiro vai bater na bola. Entretanto, seu jogo “sem bola” nesses momentos é tão importante quanto num jogo de futebol ou basquete. Observe o jogador adversário que está na rede em busca de pistas. A atitude dele lhe dirá o que fazer e você tem três tipos de ação possíveis. Qual ação você tomará depende da resposta a duas simples perguntas. O fluxograma abaixo ajuda a entender o processo. Não se preocupe em memorizá-lo pois se você estiver olhando para o lugar certo, a atitude correta é uma questão de bom senso apenas.
         Conceda o ponto, virando-se de costas na direção do corredor, caso o adversário que está na rede tenha um voleio fácil. Assim, se você for atingido, será nas costas e não na frente do corpo. NÃO ANDE PARA TRÁS, pois isso dificulta a defesa contra um voleio em alta velocidade.

         O jogador da rede deve se mexer. Aliás, diz-se que aquele que nunca leva uma “passada” não está jogando bem na rede.


Estratégias no Jogo de Duplas


Triunfar por meio da estratégia não é um papel menor
para um general do que vencer pela força das armas.
 Júlio César
  
Estratégia diz respeito ao posicionamento na quadra e à busca dos objetivos estratégicos do jogo em questão. Enquanto você não definir os objetivos estratégicos de um jogo, você não terá nada em que aplicar as suas táticas.

Para ilustar: o que aconteceria se você mandasse soldados para uma guerra sem os generais e apenas lhes dissesse para vencer a batalha? Os táticos (capitães) fariam isso ou aquilo. Alguns atacariam uma cidade ou ocupariam uma posição elevada, só porque elas estavam lá, mesmo que não tivessem nenhuma importância estratégica. Alguns defenderiam até o fim posições sem importância, sustentando pesadas baixas por nada, em vez de recuar e reforçar outra unidade que esteja defendendo uma posição crucial. Ou seja, pode-se perceber que:
·        algumas táticas não apropriadas seriam utilizadas;
·        as ações de algumas unidades prejudicariam as ações de outras;
·        os objetivos buscados não seriam necessariamente os estratégicos.

Essa não seria a melhor maneira de vencer...

Portanto, nesta unidade, vamos analisar os objetivos estratégicos do jogo. Também serão discutidos algumas opções táticas. Você verá por que uma tática pode ser boa numa situação e ruim em outra. Por exemplo, sacar com força extra pode ser uma boa tática em dupla australiana, mas numa formação normal, o melhor a fazer é colocar a maioria dos primeiros saques em jogo.

No jogo de duplas, existem três estratégias básicas, correspondentes às três formações possíveis:
·        Um jogador na rede e um no fundo
·        Ambos os jogadores na rede
·        Ambos os jogadores no fundo
Qual a melhor estratégia para o jogo de duplas? Teoricamente, a ideal é aquela em que ambos os jogadores vão à rede. Porém, ela requer habilidades que a tornam impraticável para alguns times. Não obstante, a maioria das duplas pode usar essa estratégia pelo menos numa parte do jogo, ganhando assim o benefício de suas posições de vantagem e ângulos.

Estratégia “um jogador na rede e um no fundo”
Um pessimista vê dificuldades em cada oportunidade;
 um otimista vê oportunidades em cada dificuldade.
 Winston Churchill

Quando as duas duplas jogam na formação “um na rede e um no fundo”, o ponto típico será uma longa troca de bolas entre os jogadores de fundo. Os que estão na rede procuram uma chance para interceptar uma dessas bolas e volear para vencer o ponto.
Este cenário é aparentemente simples. Porém, na verdade, essa estratégia é mais difícil de aprender e executar que as outras duas.  Não porque ela seja difícil em si, mas porque existem muitas variações possíveis.

Na estratégia “um na rede e um no fundo”, as duplas podem se posicionar de forma normal ou trocada, com os jogadores de rede frente-à-frente, conforme as figuras a seguir. Trocar de posição, estrategicamente, muda o jogo. Quando isso acontece, a interceptação das bolas pelo jogador de rede se torna mais fácil. Dessa forma, é preciso perceber isso e saber o que fazer a respeito.

Além disso, existem variações dessa estratégia, como por exemplo a chamada “dupla australiana”, em que a troca de posições é feita, pelo time que está sacando, antes do ponto iniciar. Não é preciso ter receio de fazer isso, pois a regra impede a interceptação do saque, mas o time recebedor passa a ter o risco de ver a sua devolução de saque interceptada pelo jogador adversário que está na rede.

Um outro fator que torna a estratégia “um na rede e um no fundo” mais complexa que as outras é que pequenos erros de posicionamento fazem uma grande diferença. Pode ser que um jogador de rede se coloque na frente do jogador de fundo. Apesar disso, é preciso que o jogador de rede se mantenha ativo o tempo todo, para interceptar a bola dos adversários. Normalmente, o jogador de rede que for mais bem sucedido nessa tarefa é quem decidirá o “game”. Conte com isso!

          Isto significa que o sacador precisa que o parceiro na rede se posicione perfeitamente de modo a interceptar a bola do adversário, porém sem se colocar no seu caminho. É preciso que ele se antecipe. Que intercepte as bolas ou que ameace fazer a interceptação, provocando o devolvedor a tentar a passagem pelo corredor, que tem baixa percentagem de acerto. É assim que se vence com a estratégia do “um na rede e o outro no fundo”. A dupla que tem o melhor jogador de rede é a que triunfa.

Estratégia “ambos os jogadores na rede”

No tênis, há um grande efeito moral em se manter sempre na
ofensiva. Se você ficar no fundo, o seu oponente pode colocar
 seus golpes onde quiser mas, se você avançar,ele precisará
 evitá-lo, e pode facilmente perder o ponto tentando fazer isso.
                                     James Dwight

A principal tarefa dos estrategistas, incluindo os militares, é a identificação dos objetivos estratégicos. No caso do tênis, o objetivo é a rede.

          É por isso que se diz que “atacar a rede” é o objetivo mais estratégico do tênis, a posição de comando a partir da qual se pode dominar as ações. É o equivalente do tênis ao “terreno elevado”, de onde se ataca os oponentes, colocando-os na defensiva.

          Por conseguinte, quanto mais próximo da rede, melhor a sua perspectiva. Ao se aproximar da rede, ela se torna mais baixa e a quadra se torna mais larga em relação a você. Para verificar isso, da próxima vez que estiver em quadra, observe que, da linha de fundo, você vê a quadra do adversário através da rede, ao avançar para a rede, ela quase sai de sua linha de visão. Na prática, a rede forma uma “sombra de golpes” sobre a quadra do seu adversário. Portanto, você vai à rede para atingir os pontos de vantagem e ângulos mais estratégicos. Dessa posição de comando, você aumenta sua percentagem de acerto e pode atacar o adversário em seus pontos mais vulneráveis.

          Porém, a sua vantagem total ao ir à rede é maior do que o seu ganho de perspectiva. “Ganhar” a rede também tem o efeito de fazer recuar os adversários, o que reduz a perspectiva deles. A rede fica mais alta, se tornando um obstáculo e o ângulo de devolução diminui. Uma parte menor da quadra fica aberta para a devolução deles. Assim, a estratégia de “ambos na rede” (tal como a dupla australiana) gera uma tremenda vantagem matemática que aumenta as suas chances de várias maneiras.

          Por que a subida à rede não é tão importante na simples como nas duplas? Principalmente porque é mais fácil dar passadas no jogador que está na rede no jogo de simples do que no de duplas. Em simples, uma bola jogada de forma agressiva do fundo da quadra é capaz de vencer o jogador na rede, caso ele não esteja bem posicionado ou não tenha a destreza necessária.

          Outra vantagem do jogo de rede é o aumento do seu alcance. Entretanto, é preciso notar que ficar próximo demais da rede pode ser desvantajoso, pois o tempo de reação pode passar a ser um fator mais importante que a geometria e acabar reduzindo o alcance. Então, você deve ficar numa posição de espera a aproximadamente 3 metros da rede. Dessa posição, você pode avançar para bater um voleio e voltando em seguida para a posição de espera.


Estratégia “ambos os jogadores no fundo”

No jogo de duplas, assumir uma formação em que ambos os jogadores vão para o fundo da quadra equivale a um recuo estratégico para defender e tentar salvar o ponto. Essa é a única força da estratégia “ambos no fundo”. Porém, o que falta é potência. Porque nenhum dos pontos de vantagem e ângulos pertence a qualquer dos jogadores da formação “ambos no fundo”.


Posições de Vantagem e Ângulos

          As chances de um time que joga com “ambos no fundo” marcar pontos é mínima ou nula. Os únicos “winners” que eles podem fazer são “lobs” ou bolas curtas, porque lhes faltam posições de vantagem e os melhores ângulos para bater “winners”. Especificamente:
•   Contra a formação “ambos na rede”: nenhum dos jogadores de fundo possui um ângulo para passada por qualquer dos oponentes. Eles podem aplicar “lobs”, mas qualquer “lob” um pouco mais baixo ou curto será interceptado com uma cortada ("smash").
•   Contra a formação “um na rede e outro no fundo”:  um dos jogadores de fundo pode ter a chance de bater um “winner”.  Se o jogador do fundo fosse deslocado para fora da quadra por uma bola angulada, ele poderia ter uma chance. Porém, isso é raro de acontecer e a sua perspectiva seria fraca.
•   Contra a mesma formação “ambos no fundo”: nenhum dos jogadores de fundo está em posição de bater uma bola angulada o suficiente para vencer qualquer um dos oponentes.

Infelizmente, o que falta à formação “ambos no fundo” – posições de vantagem e ângulos – é justamente a essência da estratégia. A formação “ambos no fundo” é estritamente defensiva.



Escolhendo um parceiro de duplas

                                      do site http://www.operationdoubles.com/
Texto original: Kathleen Krajco

É aconselhável escolher cuidadosamente o seu parceiro de duplas (mistas ou não), e que ele(a) seja, de preferência, alguém de quem você goste. Infelizmente, a maioria de nós não possui uma longa lista de parceiros para escolher.

Observem as duplas mistas em que os parceiros são casados - eles devem gostar um do outro. Porém, os problemas que ocorrem nesse tipo de duplas são conhecidos de todos, possivelmente porque os parceiros não se escolheram. Mas, como assim, se é claro que eles escolheram cuidadosamente com quem iriam se casar? Pois aí é que parece estar o problema...

Existem várias características desejáveis num parceiro de duplas. Apesar disso, o melhor parceiro dos últimos tempos foi John McEnroe, que dificilmente se encaixaria no perfil de parceiro ideal. Em minha atividade de treinadora, verifiquei esse fato diversas vezes. As personalidades mais diferentes constituem as melhores duplas. Os pares mais improváveis, constituídos ao acaso, costumam formar times excelentes e acabam forjando relacionamentos de amizade também fora da quadra.

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|  Amizade é o fruto da parceria  |
|       e não a semente.          |
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Apenas os “mandões”, que precisam que os outros se adaptem às suas especificações, são inaceitáveis. Todos os outros podem ser bons parceiros. Além disso, um conselho que eu daria é não procurar um clone de si próprio. Na verdade, as parcerias mais bem sucedidas foram formadas por jogadores com estilos contrastantes, tanto de jogo como de personalidade. Existem duas razões principais para isso.Uma é o princípio do “vigor híbrido”. Como na natureza, se os membros de uma espécie são clones, logo a espécie se extinguirá. Uma outra razão é que parceiros diferentes naturalmente desempenham papéis, na busca de um objetivo comum, ou seja, fazem um “trabalho de equipe”. Isso não significa, porém, que gêmeos idênticos, com o mesmo temperamento e habilidades, não possam ser bons parceiros. Mas eles precisam planejar e se esforçar mais, enquanto que com parceiros diferentes, isso vem naturalmente.
 
Estudiosos do tênis têm observado este fenômeno freqüentemente, notando que duplas de “opostos” constituem times surpreendentemente bons. Estes são alguns dos exemplos:  John McEnroe e Peter Fleming; Martina Navratilova e Pam Shriver; Mark Woodforde e Todd Woodbridge; e Billy Jean King e Fred Stolle. Às vezes, a disparidade é muito menos de habilidade ou estilo do que de temperamento ou personalidade. Entretanto, se vencer é o objetivo comum, nada disso interessa, contanto que nenhum dos parceiros faça nada que desagrade demais o outro.

Quanto às duplas mistas, penso que muito do que se comenta não tem muito fundamento, pois joguei muito contra duplas que eram casadas sem ter percebido nenhum atrito entre os parceiros. Só vi duas atitudes darem origem a confusões: (a) o homem atropelando a mulher para devolver uma bola que era dela; (b) uma mulher marcando erradamente porque o marido estava impressionado com o jogo superior de sua adversária. E não deveria ser surpresa que as duas coisas acima ocorreram com o mesmo casal...

Provavelmente, se há desavenças entre um casal na quadra, não haverá paz também em outras arenas. Relacionamentos fracos são balançados sempre que dificuldades são encontradas, sejam elas financeiras, derivadas de um desastre, ou meramente fantasias construídas na luta para vencer um jogo de tênis. Ou seja, os problemas conjugais precedem o tênis e nada tem a ver com ele.

Traduzido de http://www.operationdoubles.com por Eduardo Ponce da Motta