quinta-feira, 19 de maio de 2011

Entrevista com o Prof. Túlio Simões

1) Como surgiu o seu interesse pelo tênis?
Vi meu pai aprendendo com um grande mestre cuja aula foi a inspiração. Ele criava obstáculos transponíveis, o que gerava uma motivação. 

2) Quando começou a jogar tênis?
Comecei aos 9 anos no Fluminense F. Clube 

3) Você chegou a ser um jogador de alto nível?
Fui jogador de 1a classe e fiquei entre os 10 do Rio numa temporada.


4) É importante que um professor de tênis tenha sido ou seja um ótimo jogador? 

Depende. Se o aluno dele exigir experiência de quem competiu em alto nível, sim. Quando teu aluno vai disputar uma final, se você já pisou lá, é melhor. A experiência é tudo. O melhor de tudo é que o tênis traz resultado. Você ensina, seu aluno vai lá e aprende, joga campeonato e ganha jogos. Não é uma coisa subjetiva feito Tai Chi Chuan.  Agora você também ensina um sedentário a voltar a ser saudável e ajuda na formação de uma criança em desenvolvimento. 

5) Há quantos anos você dá aula de tênis?
Há mais de 30. Comecei quase uma criança, aos 17.

6) Há quantos anos você está na Lob? Para quantos alunos você já deu aula?

Há uns 25 anos, se somar tudo. Difícil calcular, tenho aluno hoje que está comigo há 15 anos. Começaram iniciantes e hoje estão em nível de professor. Tenho outros iniciantes e alunos médios. Cada nível com sua dificuldade. Uns 1000, talvez.

7) Qual a diferença entre um treinador de tênis e um professor de tênis?

Um profissional de educação física que é meu caso, ensina, forma, educa e desenvolve. O treinador faz tudo isso voltado para uma performance de um atleta. Ensinar tênis é muito difícil . Envolve leis da física, psicologia, fisiologia, biomecânica, marketing, este último porque você precisa transformar os desejos e expectativas dos alunos em algo factível. Se aparecer uma pessoa tentando aprender a dar o lob top spin de esquerda quando estiver se deslocando para trás, eu tenho que equacionar isto para tentar lhe passar o possível. 

8) Qual o aspecto mais importante para um tenista: físico, técnico ou psicológico?
Os três. O técnico pode dar uma devolução de saque impegável, mas se o cara pegar e houver troca de bolas, vai precisar do físico e, se, também tiver o técnico-físico, o psicológico vai ser o diferencial. 

9) Pode falar um pouco sobre sua publicação “Táticas e Psicologia de Jogo”?
Em 1996, eu estava aprendendo a digitar para poder lidar com computação e comecei a treinar datilografia escrevendo sobre tênis. Quando vi , já tinha 10 laudas. Daí foi um passo. Foi uma experiência muito rica.

10) Você fez pesquisas para escrevê-la? Tem outras obras escritas ou por escrever?

Não fiz pesquisa. Apenas pensei o que eu poderia passar que poderia ser útil para as pessoas. Foi uma forma de divulgar meu trabalho e também você acaba abrindo portas na sua vida também. Tenho vontade de escrever o Táticas 2 , O Amigo Agora é Outro.

11) Acha que o Thomaz Bellucci pode chegar a ser um campeão de Grand Slam como o Guga? O que isso significaria para o tênis brasileiro?

O Bellucci poderá evoluir sim. O nível top 10 é mais intenso. Ele já provou que pode beliscar os tops, vai depender de ele manter o nível da semi em Madri . Ele tinha que treinar com esses caras bons. O Guga puxou vários, porque ele treinou junto com brasileiros que puderam treinar com a bola pesada do nosso Manezinho. Ele já melhorou o saque com o Larri. Se eu fosse o Larri, botava uma psicóloga para dar uma força. O jogador precisa canalizar toda sua energia para o objetivo de tirar toda a potência de dentro de si. 

Se o Bellucci ganhasse um Grand Slam, o tênis daria um salto muito grande numa década em que o Brasil terá vários eventos esportivos sendo os principais as Olimpíadas e a Copa do Mundo. 

12) O que está faltando para o Brasil ter mais tenistas de alto nível?
O que falta para o Brasil ter mais atletas é fazer peneira em colégios. Poderia se fazer um convênio com colégios, clubes e academias para selecionar. Muitas vezes você tem um campeão em potencial na mão, mas este não tem dinheiro. Mesmo que a academia ou o clube lhe dê uma bolsa, lá na frente na transição do amador para o profissional, não vai ter para viajar e se hospedar. E ficar dois, três anos para ver se desponta. 

No futebol você vê a famosa peneira, quantos são descartados para alguns chegarem lá..... é cruel mas é assim que a banda toca.

Veja só, a nossa melhor tenista brasileira é uma carioca, Ana Clara Duarte, filha do Francisco e da Vera, que foram muito bons pais e professores de tênis e conseguiram levá-la a ser 250 do mundo. Ela está lutando por patrocínios, apesar de ter alguns, mas não é fácil. 

O sócio/gerente da Lob, Ivan Gentil luta mantendo os filhos nos EUA, onde há um ambiente todo voltado para o tênis com muita gente indo para o grande centro tenístico. Aqui no Brasil, na época do Guga, havia sido criado um ambiente para termos tenistas. Eu mesmo tive 4 alunos que foram estudar nos EUA com bolsa. Havia demanda. Muita gente veio jogar por causa do "efeito" Guga. A Europa atualmente está passando os EUA, por causa dos ídolos. 

O tênis é um esporte com características diferentes das do futebol, por exemplo. No futebol você faz a peneira, seleciona e o clube se encarrega de cuidar do atleta. 

No tênis você só aprende em clube ou academia, e paga por isso. Daí para frente, não há ninguém, nem clube, nem procurador de atleta. Outra coisa é a reverência e identidade. O futebol tem campeão brasileiro, campeão carioca, campeão estadual, campeão por equipes. 

O tênis é individual. Você não torce para o Bellucci ou a Ana Clara serem campeões estaduais ou brasileiros, você fica na espectativa se ele vai baixar o top 20 ou se ela descer a top 100. Se ele vai ganhar de um top 10 e por aí vai.

Quando, na década de 90, havia um torneio profissional patrocinado pelo Jorge Paulo Lehman, através da ATC (associação dos tenistas de competição),  o tênis do RJ nunca tinha ficado tão forte. Apareceram valores novos e os juvenis puderam jogar contra profissas tarimbados. Acredito que com 10.000 por mês em prêmios daria para se começar algo.

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